quinta-feira, 29 de setembro de 2011

o olhar sobre a nova história







UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
PROGRAD – ASPES/FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA – UNEB/MEC/CAPES/ PLATAFORMA FREIRE
CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA




  SÔNIA MARA DOURADO MARTINS




ARTIGO DE OPINIÃO:
   O OLHAR SOBRE A NOVA HISTÓRIA








     Irecê - Bahia
   2011
SÔNIA MARA DOURADO MARTINS








  ARTIGO DE OPINIÃO:
  O OLHAR SOBRE A NOVA HISTÓRIA

Artigo de opinião apresentado como instrumento de avaliação da disciplina Teoria da história II, ministrada pela docente Kamille Rebouças, componente curricular do curso de Licenciatura em História, 3º módulo do 2º ano, oferecido pelo programa Uneb/Mec/Capes/Plataforma Freire.





                                                          


                                                       Irecê – Bahia
                                                              2011
RESUMO
O presente artigo apresenta uma breve abordagem de como a História vem sendo analisada, com todas suas mudanças dentro do contexto histórico pesquisado. Mostrando a importância do papel do historiador e da própria historiografia, fazendo uma síntese do estudo da História na sociedade dos séculos XIX e XX. Explicando a função da historiografia através de dois períodos, antes e após a Escola dos Annales. No século XIX, a História era uma disciplina fechada que se preocupava em ressaltar os grandes acontecimentos históricos, numa narrativa cronológica da História Política, com seus respectivos protagonistas, homens ditos “heróis”, seguindo uma roupagem positivista conhecida como a Escola Metódica, e dando maior destaque para o estudo das Escolas dos Annales, que surge em 1929, século XX, por seus criadores, os historiadores Febvre e Bloch, que trata da análise de uma História aberta às contribuições de outras ciências como, geografia, sociologia, antropologia etc. em sua formação historiográfica considerando os grupos sociais antes desfavorecidos pela História tradicional, como, crianças, mulheres, trabalhadores, pessoas simples retratando o seu cotidiano, por meio de vestígios de uma sociedade que só a partir da História Nova foram reconhecidos como fontes históricas, sejam eles além de documentos escritos, fontes orais, memória, costumes, cultura, cotidiano familiar, ou seja, tudo que dar suporte na construção Histórica Social de um povo.
Palavras – chaves: Escolas dos Annales. História Nova. História Social. Historiador. Historiografia.







O olhar sobre a Nova História
Sônia Mara Dourado Martins
"A história é êmula do tempo, repositório dos fatos, testemunha do passado, exemplo do presente, advertência do futuro." (Miguel de Cervantes)
A História como toda ciência, tem sua própria História, a qual tem sido construída ao longo do tempo, desde suas origens até os dias atuais. A historiografia é uma reflexão sobre historiadores e suas obras, a produção e a escrita da História, os métodos históricos e as diversas correntes historiográficas, em síntese, historiografia refere-se à História elaborada a partir da escrita da História. Portanto, é necessário que se tome o objeto da História em sua historicidade, pois sua definição tem mudado muito de acordo com as transformações e a forma como vem se constituindo como campo de investigação científica, com método próprio, e como disciplina, matéria que deve ser estudada. “A História é a mestra da vida”. (Cícero, 106-43 a.C.)
No texto de Jean Starobinski, (Literatura: O texto e o seu intérprete ) ele faz uma abordagem sobre como devemos fazer as escolhas dos objetos de estudos que queremos pesquisar, enfatizando que a linha de pesquisa se divide em duas direções: na primeira procuramos a realidade a aprender e a outra aprender de acordo com a natureza de nossas respostas, sintetizando que somos nós, sem dúvida a fonte única dessa dupla escolha,papel fundamental que estar explícito nos discursos da Nova História.
Ao ler vários textos que retrata à nova concepção de História - a Nova História - associada à Escola dos Annales, escolhi alguns destes, focando mais nos textos de Le Goff. Procurando analisar, segundo perspectivas bastante distintas, os rumos da produção historiográfica, fazendo um pequeno histórico sobre a História Tradicional e a História Nova, dentro do ponto de vista dos historiadores  na visão dos Annales.  
Le Goff, em seu texto A Nova História, ele faz uma síntese do processo do papel do historiador e de como a História era vista, destacando os séculos XIX e XX. No século XIX os historiadores procuraram fazer da História uma ciência por causa dos notáveis avanços científicos, tendo como objetivo relatar os fatos da forma como eles aconteceram, na chamada Escola Metódica ou Positivismo Histórico, que tem a pretensão de uma verdade absoluta no conhecimento do passado, contribuindo para construir um passado comum a todos os cidadãos da pátria, a coragem dos seus “heróis”, ajudando a fortalecer o Estado. Produzindo assim, uma história de eventos, numa narrativa cronológica da história política, diplomática, das guerras e dos grandes homens (os heróis). A História foi se tornando um espaço de saber dominado por especialistas, que passaram a ter formações específicas.
Ressaltando as contribuições de Karl Marx, que foram significativas, dando destaque ao chamado materialismo histórico: fator determinante da História, enfatizando a maneira como os homens organizam a sua produção, as relações de produção; o nível de desenvolvimento das forças produtivas determina a História e as formas sociais precisas, as formas políticas e ideológicas; os agentes da História são os homens reais, os trabalhadores, e não os grandes homens. “A História não é governada por heróis e nem por Deus” (Karl Marx). Sublinhando a importância dos elementos econômicos e sociais na análise histórica, que em seguida veio influenciar sobre os historiadores do século XX.
Cuja função do historiador está diretamente relacionada à função da História no plano social. Seu papel será tão mais importante quanto for à consciência da relevância da História para a leitura e a compreensão do cotidiano das pessoas de seu tempo.
Influenciados pelo marxismo Lucien Febvre e Marc Bloch, fundaram na França em 1929 (século XX), a revista dos Annales (1ª fase), com o objetivo de romper com a Escola Metódica e inscrever a História numa perspectiva mais ampla de reflexões econômicas e sociais. Essa corrente ampliou a visão do que era um documento, rompeu com os estreitos limites de uma História nacional e estabeleceu diálogos com as outras ciências, como a Geografia, Antropologia, a Sociologia e a Etnologia por exemplo. Iniciando um novo modelo de historiografia, que passou a ser denominado como Nova História já na terceira fase dos Annales, que deriva do título de uma coleção editada na França, sob a direção de Jacques Le Goff, e a influenciar fortemente o trabalho de pesquisa e de ensino do mundo todo.
Na segunda geração dos Annales, influenciado por Bloch o historiador Pierre Vilar desenvolveu um conceito resumido, que consiste em considerar a História não apenas constituída pelo conjunto dos fatos passados notáveis, mas, sim, pelos fatos anônimos, os acontecimentos de massa com dinâmica própria.
Se no fim do século XIX, na França, havia o predomínio da chamada Escola Metódica, a partir da metade do século XX, tornou-se cada vez mais clara a influência dos Annales, para a compreensão da história, os fenômenos inscritos em um tempo longo, a chamada longa duração de Fernande Braudel, são mais significativos do que aqueles de fraca amplitude, de curta duração como na história tradicional, também, os comportamentos coletivos têm mais importância sobre o curso da história do que as de iniciativas individuais, propondo novas formas de utilização de fontes e de entendimentos do tempo. Era chegada a hora de passar de uma História dos tronos e das dominações para aquela dos povos e das sociedades.
Dentro dos Annales, é possível encontrar outras correntes com aspectos diferenciados, a Micro-história, a Nova História Política e a História Cultural, também são vertentes da historiografia que propõem ângulos de visões diferentes sobre o passado. Estas correntes historiográficas não devem ser entendidas como mensageiras de verdades absolutas. Sua função é a de aproximação, da tentativa de fornecer uma versão ou leitura mais fiel do vivido, uma vez que a verdade absoluta é, por definição, inalcançável a qualquer historiador.
O ensino e o estudo da História como disciplina escolar foi fortemente influenciado pelo contexto histórico. Até o inicio do século XX, as aulas de História eram baseadas na memorização e repetição oral de textos escritos. Quase não existiam materiais didáticos e a transmissão dos conteúdos ficava unicamente sob a responsabilidade do professor que era tido como o detentor do saber.
Vimos que, por muito tempo, a História que foi ensinada no mundo pouco se preocupou com a realidade dos alunos. Ela privilegiava acontecimentos e fatos isolados, deixando de lado as relações entre os diferentes grupos sociais ao longo dos tempos. Além disso, era dominada pelas elites governantes: o povo não era visto como agente do processo histórico.
A História tradicional como ficou conhecida apresentava características positivistas baseada na idéias de Auguste Comte, cujo pregava o cientificismo do pensamento e do estudo humano, visando à obtenção de resultados claros, objetivos e completamente correto. As críticas apoiavam- se em documentos escritos e ocupavam-se em estudar principalmente fatos e acontecimentos de ordem política. Valorizavam-se as ações de generais e políticos e desconsiderava-se a história de pessoas comuns, como crianças, mulheres, operários, agricultores e todos os demais trabalhadores de classe baixa e até média.
Neste mesmo período metade do século XX, a História surge com uma nova corrente de pensamentos que buscava novos caminhos como a interdisciplinaridade que pregava Bloch e uma aproximação maior com as demais ciências, como a geografia, sociologia, antropologia... Cujo objetivo maior era tornar-se objeto de trocas de idéias e debates. Começando assim um movimento de reação ao cientificismo, no qual o olhar do historiador volta-se mais para o estudo das sociedades, abandonando-se, em boa parte, a história narrativa e factual.
 Buscou-se uma história total, na qual toda a sociedade, no seu sentido mais amplo, estivesse representada. Passam a explorar novos campos, como costumes, hábitos alimentares, sistema de casamentos e formas de parentescos, taxas demográficas, medos, paixões, etc. Abrindo assim caminhos para que o cotidiano e a mentalidade fossem conhecidos.
Sendo que a maior parte dos currículos escolares desta época não favorecia a reflexão, já que a disciplina privilegiava mais a seqüência dos acontecimentos históricos, dando destaque maior aos fatos isolados, da História comemorativa, sem contextualização. Passando a idéia de que a História era uma disciplina pronta e acabada porque se tratava do que já aconteceu. A construção do conhecimento histórico, o estudo das ações humanas, as relações entre os grupos sociais, o tempo e o espaço eram desprezados na maior parte das vezes.
Hoje se fala muito em História Social, mas uma definição precisa do termo é cada vez mais difícil de dar. História Social em um primeiro momento era tudo aquilo que não fosse à história tradicional, uma vez que tal conceito foi muito utilizado pelos fundadores e membros da Escola dos Annales. Desde então História Social e Annales são quase sinônimos. Foi através do movimento dos Annales que a história surge pela primeira vez com a expressão História Social, fazendo uma análise mais específica da vida em sociedade, resultando num alargamento histórico construído em oposição à história tradicional.
Desde 1930 esta História Social, inspirada pelos Annales, desenvolvia-se a partir de uma prática historiográfica que afirmava a prioridade dos fenômenos que para esta Nova História atingir sua existência mais completa sofreu influências de grandes pensadores como Comte, Durkein, dentre outros.
 Na metade do século XX, a expressão “História social” de acordo com Hebe Castro, surge ligada a três significações diferentes: A culturalista que dava destaque aos costumes e tradições nacionais ligada ao pensamento conservador; A de aspecto político e econômico, que com o avanço das idéias socialistas passa a dar ênfase aos sujeitos “simples” da história e a História Social enquanto especialidade começa a se tornar hegemônica, tendendo a desenvolver metodologias próprias, porém todas incluídas no estudo de longa duração como defende Fernande Braudel.
A História Social tem suas problemáticas e métodos específicos. Hebe acredita que sim: seria, respectivamente, entender como se formam e como interagem os diversos grupos sociais.
 Estudar a “História da História” ajuda a entender como o discurso historiográfico não é neutro, e sim sustentado por verdades provisórias, sempre sujeitas a reavaliações, fato que demonstra de maneira inegável que o passado não é um assunto encerrado e morto. Pelo contrário, tem por hipótese ser capaz de ler a História feita por profissionais também como objetos de crítica e análise: é preciso levar em consideração o contexto em que foi escrita, onde e por quem
Assim o estudo de História assumiu caráter crítico, sendo possível, quando do interesse do historiador, trabalhar com processos histórico complexos, tendo como base para a estruturação do conhecimento, não a datação de eventos simbólicos para a cronologia do Estado ou a identificação de indivíduos que operam os rumos da sociedade com seu espírito de liderança, mas a interação entre diversos grupos sociais para a relação entre estruturas distintas de atuação dos indivíduos, com suas contribuições, através dos vestígios de uma sociedade, que só a partir da História Nova foram reconhecidos como fontes históricas, como as narrativas (fontes orais), memória, costumes, cultura, cotidiano familiar, documentos escritos, ou seja, tudo que dar suporte na construção Histórica Social de um povo.
 “A História faz-se com documentos escritos, sem dúvida. Quando estes existem. Mas pode fazer-se, deve fazer-se sem documentos escritos, quando estes não existem.”(Lucien Febvre).  
Por Sônia Mara Dourado Martins, aluna do 3º módulo do 2º ano do curso de Licenciatura em História pelo programa ASPES/Formação de professores da educação básica – UNEB/MEC/CAPES/ PLATAFORMA FREIRE,








REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

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