FICHAMENTO
DO LIVRO DO ANTROPOLOGO ROBERTO DA MATTA, O QUE FAZ DO brasil BRASIL?
SÔNIA
MARA DOURADO MARTINS
Neste
livro o que faz do brasil Brasil ? Da Matta Faz uma leitura do Brasil através
de palavras como: brasil e Brasil; casa,
rua e trabalho; branco, negro e mulato; comida e mulher; carnaval,
teatro e prazer; festa e ordem; malandragem e jeitinho e Deus. Palavras estas utilizada
para explicar suas idéias que
vão se entrelaçando uma com as outras, capítulo a capítulo, para chegar a uma
possível explicação da formação e comportamento do que ele denomina de
Sociedade Brasileira. Que em todo tempo no transcorrer da obra ele tenta nos mostrar que a sociedade brasileira
não é homogênea, mas sim heterogênea. Utilizando em suas argumentações técnicas
bem claras de pesquisa na tentativa de um aprofundamento no tocante a questão
da identidade do Brasil.
Da Matta inicia seu livro fazendo uma análise que busca a questão da identidade do nosso
país. Identidade esta que ele explica com a palavra Brasil fazendo uma
distinção entre o “brasil” com o ‘b’
minúsculo: que é aquele tratado como um objeto
sem vida, um pedaço de coisa que morre, sem poder de reproduzir, lugar
predestinado a viver de uma imposta e agressiva aculturação que não sabe conjugar lei com
clã; indivíduo com pessoa; evento com estrutura; comida farta com pobreza
estrutural; carnaval com comício político. Brasil este que segue regras e
obedece um padrão de vida de uma classe minoritária.”Sociedade onde pessoas
seguem certos valores e julgam as ações humanas dentro de um padrão somente
seu”. (p.12) e o Brasil com o “B” maiúsculo
é aquele que referi-se ao povo, conjunto de
valores que tem uma cultura, território com
suas limitações internas e externas , ou seja, é uma nação,
é um país complexo que tem história, mas, também definido pelo autor como casa, pedaço de chão calçado com o calor de nossos corpos,
lar, memória e consciência de um lugar com o qual se tem uma ligação especial,
única, totalmente sagrada.
Ele nos apresenta um Brasil surgindo como
sociedade autônoma viva cheia de auto-reflexão e consciência. Ele refere ao
Brasil como dois para tentarmos descobrir como é que eles se ligam entre si; como é que cada um
depende do outro, e como os dois formam uma realidade única que existe
concretamente naquilo que chamamos de “pátria”.O primeiro “brasil” é dado nas possibilidades humanas, mas que o
segundo Brasil é feito de uma combinação especial dessas possibilidades
universais. “(...) Aqui, o que faz o brasil, Brasil, não é mais a vergonha do regime
ou a inflação galopante e “sem vergonha”,mas a comida deliciosa, a música
envolvente, a saudade que humaniza o tempo e a morte, e os amigos que permite
resistir a tudo...” (p.19)
Tudo isso nos
leva a descobrir que existem dois modos básicos de construir a identidade
brasileira. Por meio dos dados quantitativos, onde somos sempre uma
coletividade que deixa a desejar; e por meio de dados sensíveis e qualitativos,
onde podemos ser vistos como algo que vale a pena.
Ele
continua explicando a sociedade através de sistemas de vida de cada indivíduo.
Neste segundo capítulo abri espaço para discutir a casa, a
rua e o trabalho onde ele deixa claro que a casa e a rua são mais do que
meros espaços geográficos, são modos de ler,
explicar e falar do mundo, porque ali encontra historia e construção de vida. Ou seja, elas se interagem e se complementam
num ciclo que é cumprido diariamente por homens e mulheres, velhos e crianças. “(...)
quando falamos da “casa”, não estamos nos referindo simplesmente a um local
onde dormimos, comemos ou que usamos para estar abrigados do vento, do frio ou
da chuva. Mas - isto sim - estamos nos referindo a um espaço profundamente
totalizado numa forte moral. Uma dimensão da vida social permeada de valores e
de realidades múltiplas (...)”. (p.24-25)
Daí
porque dizermos que a rua é equivalente à dura realidade da vida, nela ao
contrário da casa “(...) não há teoricamente, nem amor, nem consideração, nem
respeito, nem amizade (...)” (p.29). Nela a administração não é mais da mãe ou
do pai, agora ela é dado à autoridade que governa com a lei, a qual torna todo
mundo igual no propósito de desautoridade e até mesmo explorar de forma
impiedosa. Isto explica por que na rua,
tendemos a ser todos revolucionários e revoltados, membros destituídos de uma
massa de anônimos trabalhadores, conforme atesta o ritual aflitivo e complexo que
vivemos, mas certamente a rua compensa a casa e a casa equilibra a rua.
No Brasil, casa e rua são como os dois lados
de uma moeda uma depende da outra para manter a ordem e o equilíbrio da
sociedade brasileira, já que ela é o espaço que permite a mediação do trabalho
pra casa e de casa para o trabalho, “(...), pois aqui a relação vai do
econômico ao moral, totalizando-se em muitas dimensões e atingindo diversas
camadas sociais. (...)” (p.32) . Para Da matta essas três
idéias se correlacionam, e fazem parte da vida do individuo,
ou seja, são fatos sociais totalizante, na casa
há tranqüilidade, calma, harmonia; na rua
há luta, batalha, perigo, e no trabalho tem concorrência, reclamação,
chefe, batente, mas é com esta complexidade que construímos e
transformamos o nosso espaço chamado de sociedade brasileira.
No capitulo três “A ilusão das relações raciais”, DaMatta
analisa a mistura de miscigenação das “raças”,que alguns autores vêem como
problema para o construção
da identidade nacional brasileira, procura entender a posição de liderança
do branco ocidental. Ele começa a sua explicação a partir de uma frase do
séc. XVIII de Antonil que “(...) O Brasil é um inferno para os negros, um
purgatório para os brancos e um paraíso para os mulatos (...)”. (p.37) Onde ele
explica a teoria racista a partir da visão que se tem do mulato como alteração das
raças. Em seguida compara a
relação racial entre Brasil e Estados unidos, enquanto
no Brasil não tem uma classificação racial formalizada em preto e
branco como nos EUA, pois lá há varias divisões, por
exemplo, tem escola de negro e escola do branco, ônibus
do negro e ônibus do branco, bairro do negro e bairro
do branco, diferente do que acontece no Brasil. Desse modo, “(...) o nosso
preconceito seria muito mais contextualizado e sofisticado do que o
norte-americano, que é direto e formal (...)”. (p.43)
Segundo o livro de Da Matta o
racismo que ele descreve estar enraizado desde a nossa formação de Brasil
devido a uma colonização portuguesa aristocrata, constituída de uma ideologia
nacional, temos um mito de três raças formadoras, não podemos negá-la, já que é mais fácil
dizer que o Brasil foi formado por um triângulo de raças, como dizia Sergio Buarque: “a mistura de raça será um modo de esconder as injustiças social contrra
o negro, índio e mulato, e a idéia de democracia racial não passava de um mito” do que assumir que somos uma sociedade hierarquizada, que opera
por meio de gradações e que, por isso mesmo, pode admitir, entre o branco
superior e o negro pobre e inferior, uma série de critérios de classificação. Âmbito
No quarto capítulo Da Matta para continuar explicando a sociedade
brasileira ele faz uso de dois códigos que representa bem a nossa sociedade
comida e mulher, como explicação teorica da
sociedade, tanto quanto a política, a economia, a família, o espaço e o tempo,
em suas preocupações e, certamente, em suas contradições. Se utilizando ainda
de dois termos mais distinto, cru e cozido “(...) não somente como dois estados pelos quais passam todos os
alimentos, mas como modalidades pelas quais se pode falar de transformações
sociais importantíssimas (...)”. (p. 51)
Popularmente o cru simboliza o brasil (algo selvagem, fora da casa sem
controle) tão falado no primeiro capítulo e o cozido O Brasil (lugar refinado
de cultura, social) . Para nós brasileiros já que em outros países tem outros
significados, estas expressões podem significar facilmente um mundo complicado,
um campo de princípios onde podemos nos enxergar como formidáveis e nos levar
finalmente, muito a sério.
Ou até mesmo o nosso tão famoso “feijão com arroz”, onde podemos
usar como sinônimos de misturar preto com branco, a cama e a mesa misturando as
duas porções num só espaço (sociedade), num processo lógico cultural. Comida e
mulher neste contexto social Da Matta associa á sexualidade de tal modo que o ato sexual pode ser traduzido
com um ato de “comer”, assim, a relação sexual, na compreensão brasileira coloca
a diferença e a radical desigualdade, para logo em seguida hierarquizá-la no
englobamento de um comedor e um comido, podendo afirmar, “(...)sem correr o risco do exagero,
que mesmo hoje, nesta era de transformação e mudanças rápidas, o homem é o
englobador do mundo da rua, do mercado, do trabalho, da política e das leis, ao
passo que a mulher engloba o mundo da casa, da família, das regras e costumes
relativos à mesa e à hospitalidade(...)”. (p.61) Pois como afirma Da Matta na
p. 58 a comida define bem as pessoas: “dize-me o que comes e
dir-te-ei quem és”!
Com tudo isto El nos mostra como
estamos acondicionados a viver de rotinas, que é capaz de variar de sociedade para sociedade e pode ser
realizada tanto coletiva quanto individualmente. Como rotina nos remete ao
trabalho e que este é o que indica a idéia (ou ideal) da construção do homem pelo homem, onde o
controle é total. E por conta desta obrigação operante a sociedade é instigada
a promover momentos especiais que o próprio grupo, planeja, constrói, inventa e
espera no caso, as festas.
Onde o autor faz uma análise do carnaval, algo que sem dúvida
nenhuma é o símbolo que melhor descreve o Brasil. Tratando o carnaval como
teatro ou prazer. Levando-nos a conceituar o carnaval basicamente como uma
inversão do mundo, uma extravagância de forma positiva e esperada, planificada
e, por tudo isso, vista como desejada e necessária em nosso mundo social, pois
é nele que trocamos o trabalho que castiga o corpo pelo uso do corpo como
instrumento de prazer e beleza.
Assim podemos descrever que tal manifestação cria situações onde varias
coisas são possíveis de acontecerem outras podem ser evitadas. Ele é
definido como “liberdade”, como possibilidade de viver uma
ausência fantasiosa e utópica de miséria, trabalho, obrigações,
pecado e deveres, onde as pessoas podem até mudar de posição social,
permitindo que estas se olhem e, inesperadamente, se vejam em sua unidade como
“pessoas” e em sua diversidade como membros de uma comunidade social e
politicamente diferenciada.
Todas s festas recriam e resgatam o tempo, o espaço e as
relações sociais, assim, é na festa que tomamos consciência de coisas
gratificantes e dolorosas. Aqui ele busca, explicar que nem toda
festa é igual o carnaval (liberdade, igualdade), já que festas da ordem, ou seja, das formalidades sociais em que se comemoram as
relações sociais tal como elas atuam no mundo diário, as diferenças são mantidas.
Como também nas sagradas que priorizam a moral e acabam excluindo ( o que lhe é
considerado profano) em vez de incluir já que alegam ser este o seu maior
objetivo.
“Tudo isso é salientado com precisão em todos
os ritos da ordem”(p.85), onde a idéia de sacrificar o corpo pela pátria, por
Deus ou por um partido político acaba se exprimindo pela noção de dever, de
devoção e de ordem. O que afronta com os rituais carnavalescos que usa o corpo
como instrumento de prazer e beleza.“Daí, talvez, essas regras rígidas de contenção corporal,verbal e gestual nos ritos da ordem”. (p.84)
Aqui no
sétimo capítulo o autor retrata algumas condutas que
são peculiares ao brasileiro como a malandragem, o
jeitinho, o despachante. , por sermos um país onde as leis tem suas distinções de acordo
com a posição social de cada indivíduo.Assim os brasileiros usufruem destas
astúcias de um modo pacífico e até mesmo legítimo de resolver tais problemas,
provocando essa junção inteiramente casuística da lei com a pessoa que a está
utilizando. Malandro, portanto, seria um profissional do “jeitinho” e da arte
de sobreviver nas situações mais difíceis, quanto ao despachante é aquele que
tem dificuldade brasileira de vincular a lei com a realidade social diária.
Diferentemente de alguns países
como: “os Estados Unidos, a França e a Inglaterra, que são exemplos, de
que lá as regras ou são obedecidas ou não existem” (p.97), lá a lei
é um instrumento que faz a sociedade funcionar bem e aqui elas funcionam
como requisito de exploração ou submissão dos cidadãos, o bom neste livro é que
autor tem a preocupação de nos conduzir a observar estas diferenças de sociedades entre o Brasil e outros países considerado do
“primeiro mundo”.
Assim a malandragem, não é simplesmente uma singularidade
imprudente de todos nós, brasileiros. Podemos dizer que é um modo intimamente
original e brasileiro de viver, e às vezes sobreviver, num sistema em que a
casa nem sempre fala com a rua e as leis formais da vida pública nada têm a ver
com as boas regras da moralidade costumeira que governam a nossa honra, o
respeito, e, a lealdade que devemos aos “irmãos”, e sim, Algo muito sério,
contendo suas regras, espaços e paradoxos...
Para finalizar seu livro Da Matta nos remete aos caminhos para se
chegar a Deus, tendo como foco a
religião que segundo ele “é
um modo de ordenar o mundo, facultando nossa compreensão para coisas muito
complexas, como a idéia de tempo, a idéia de eterno, a idéia
de perda e desaparecimento, esses mistérios perenes da experiência
humana”. (p.113) . A religião marca e ajuda a definir momentos importantes na vida de
todos nós, legitimada com o aval divino
ou sobrenatural uma passagem que se deseja necessária, que é chegar a Deus. O
Brasil é um país de uma variedade de experiências religiosas extensas e em
todas as formas de religiosidade brasileira, há uma enorme e densa evidência na
relação entre este mundo e o outro, de modo que a domesticação do tempo e da
morte é elemento fundamental em todas essas variedades ou jeitos de se chegar a
Deus.
Para construirmos nossa identidade nacional, o autor deixa bem
claro em cada capítulo deste livro, que cabe a cada um (brasileiro), na sua
singularidade respeitar e aceitar as diferenças tanto individual como coletiva,
por mais que estas divergem do “censo comum”. Pois como diz Da Matta ao se
referir mais uma vez sobre religião, mas, que esta sirva pra qualquer
repartimento social, seja: a casa, a rua, a igreja, o trabalho, as festas... ”A
relação pode ter forma diferenciada, mas a sua lógica estrutural é a mesma”
.
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