terça-feira, 8 de janeiro de 2013


FICHAMENTO DO LIVRO DO ANTROPOLOGO ROBERTO DA MATTA, O QUE FAZ DO brasil  BRASIL?

SÔNIA MARA DOURADO MARTINS

Neste livro o que faz do brasil Brasil ? Da Matta Faz uma leitura do Brasil através de palavras como: brasil e Brasil; casa,  rua e trabalho; branco, negro e mulato; comida e mulher; carnaval, teatro e prazer; festa e ordem; malandragem e jeitinho e Deus. Palavras estas utilizada para explicar suas idéias que vão se entrelaçando uma com as outras, capítulo a capítulo, para chegar a uma possível explicação da formação e comportamento do que ele denomina de Sociedade Brasileira. Que em todo tempo no transcorrer da obra ele tenta nos mostrar que a sociedade brasileira não é homogênea, mas sim heterogênea. Utilizando em suas argumentações técnicas bem claras de pesquisa na tentativa de um aprofundamento no tocante a questão da identidade do Brasil.
Da Matta inicia seu livro fazendo uma análise que busca a questão da identidade do nosso país. Identidade esta que ele explica com a palavra Brasil fazendo uma distinção entre o “brasil” com o ‘b’ minúsculo:  que  é aquele  tratado como um objeto sem vida, um pedaço de coisa que morre, sem poder de reproduzir, lugar predestinado a viver de uma imposta e agressiva aculturação que  não sabe conjugar lei com clã; indivíduo com pessoa; evento com estrutura; comida farta com pobreza estrutural; carnaval com comício político. Brasil este que segue regras e obedece um padrão de vida de uma classe minoritária.”Sociedade onde pessoas seguem certos valores e julgam as ações humanas dentro de um padrão somente seu”. (p.12) e o Brasil com o “B” maiúsculo é aquele que referi-se ao povo, conjunto de valores que  tem uma cultura,  território com suas limitações internas e externas , ou seja, é uma nação, é um  país complexo que tem história, mas, também definido pelo autor como casa, pedaço de chão calçado com o calor de nossos corpos, lar, memória e consciência de um lugar com o qual se tem uma ligação especial, única, totalmente sagrada.
Ele nos apresenta um Brasil surgindo como sociedade autônoma viva cheia de auto-reflexão e consciência. Ele refere ao Brasil como dois para tentarmos descobrir como é que eles se ligam entre si; como é que cada um depende do outro, e como os dois formam uma realidade única que existe concretamente naquilo que chamamos de “pátria”.O primeiro “brasil” é dado nas possibilidades humanas, mas que o segundo Brasil é feito de uma combinação especial dessas possibilidades universais. “(...) Aqui, o que faz o brasil, Brasil, não é mais a vergonha do regime ou a inflação galopante e “sem vergonha”,mas a comida deliciosa, a música envolvente, a saudade que humaniza o tempo e a morte, e os amigos que permite resistir a tudo...” (p.19) 
Tudo isso nos leva a descobrir que existem dois modos básicos de construir a identidade brasileira. Por meio dos dados quantitativos, onde somos sempre uma coletividade que deixa a desejar; e por meio de dados sensíveis e qualitativos, onde podemos ser vistos como algo que vale a pena.
Ele continua explicando a sociedade através de sistemas de vida de cada indivíduo. Neste segundo capítulo abri espaço para discutir a casa, a rua e o trabalho onde ele deixa claro que a casa e a rua são mais do que meros espaços geográficos, são modos de ler, explicar e falar do mundo, porque ali encontra historia e  construção de vida. Ou seja, elas se interagem e se complementam num ciclo que é cumprido diariamente por homens e mulheres, velhos e crianças. “(...) quando falamos da “casa”, não estamos nos referindo simplesmente a um local onde dormimos, comemos ou que usamos para estar abrigados do vento, do frio ou da chuva. Mas - isto sim - estamos nos referindo a um espaço profundamente totalizado numa forte moral. Uma dimensão da vida social permeada de valores e de realidades múltiplas (...)”. (p.24-25)
Daí porque dizermos que a rua é equivalente à dura realidade da vida, nela ao contrário da casa “(...) não há teoricamente, nem amor, nem consideração, nem respeito, nem amizade (...)” (p.29). Nela a administração não é mais da mãe ou do pai, agora ela é dado à autoridade que governa com a lei, a qual torna todo mundo igual no propósito de desautoridade e até mesmo explorar de forma impiedosa. Isto explica por que  na rua, tendemos a ser todos revolucionários e revoltados, membros destituídos de uma massa de anônimos trabalhadores, conforme atesta o ritual aflitivo e complexo que vivemos, mas certamente a rua compensa a casa e a casa equilibra a rua.
 No Brasil, casa e rua são como os dois lados de uma moeda uma depende da outra para manter a ordem e o equilíbrio da sociedade brasileira, já que ela é o espaço que permite a mediação do trabalho pra casa e de casa para o trabalho, “(...), pois aqui a relação vai do econômico ao moral, totalizando-se em muitas dimensões e atingindo diversas camadas sociais. (...)” (p.32) . Para Da matta essas três idéias se correlacionam, e fazem parte da vida do individuo, ou seja, são fatos sociais totalizante, na casa há tranqüilidade, calma, harmonia; na rua há luta, batalha, perigo, e  no trabalho tem concorrência, reclamação, chefe, batente, mas é com esta complexidade que construímos e transformamos o nosso espaço chamado de sociedade brasileira.
No capitulo três  “A ilusão das relações raciais”, DaMatta analisa a mistura de miscigenação das “raças”,que alguns autores vêem como problema para o construção da identidade nacional brasileira, procura entender a posição de liderança do branco ocidental. Ele começa a sua explicação a partir de uma frase do séc. XVIII de Antonil que “(...) O Brasil é um inferno para os negros, um purgatório para os brancos e um paraíso para os mulatos (...)”. (p.37) Onde ele explica a teoria racista a partir da visão que se tem do mulato como alteração das raças. Em seguida compara a relação racial entre Brasil e Estados unidos, enquanto no Brasil não tem uma classificação racial formalizada em preto e branco como nos EUA, pois lá há varias divisões, por exemplo, tem escola de negro e escola do branco, ônibus do negro e ônibus do branco, bairro do negro e bairro do branco, diferente do que acontece no Brasil. Desse modo, “(...) o nosso preconceito seria muito mais contextualizado e sofisticado do que o norte-americano, que é direto e formal (...)”. (p.43)
Segundo o livro de Da Matta o racismo que ele descreve estar enraizado desde a nossa formação de Brasil devido a uma colonização portuguesa aristocrata, constituída de uma  ideologia nacional, temos um mito de três raças formadoras, não podemos negá-la,  já que é mais fácil dizer que o Brasil foi formado por um triângulo de raças, como dizia  Sergio Buarque: “a mistura de raça será um modo de esconder as injustiças social contrra  o negro, índio e mulato, e a idéia de democracia     racial não passava de um mito” do que assumir que somos uma sociedade hierarquizada, que opera por meio de gradações e que, por isso mesmo, pode admitir, entre o branco superior e o negro pobre e inferior, uma série de critérios de classificação. Âmbito
No quarto capítulo Da Matta para continuar explicando a sociedade brasileira ele faz uso de dois códigos que representa bem a nossa sociedade comida e mulher, como explicação teorica da sociedade, tanto quanto a política, a economia, a família, o espaço e o tempo, em suas preocupações e, certamente, em suas contradições. Se utilizando ainda de dois termos mais distinto, cru e cozido “(...) não somente como dois estados pelos quais passam todos os alimentos, mas como modalidades pelas quais se pode falar de transformações sociais importantíssimas (...)”. (p. 51) Popularmente o cru simboliza o brasil (algo selvagem, fora da casa sem controle) tão falado no primeiro capítulo e o cozido O Brasil (lugar refinado de cultura, social) . Para nós brasileiros já que em outros países tem outros significados, estas expressões podem significar facilmente um mundo complicado, um campo de princípios onde podemos nos enxergar como formidáveis e nos levar finalmente, muito a sério.
Ou até mesmo o nosso tão famoso “feijão com arroz”, onde podemos usar como sinônimos de misturar preto com branco, a cama e a mesa misturando as duas porções num só espaço (sociedade), num processo lógico cultural. Comida e mulher neste contexto social Da Matta associa á sexualidade de tal modo que o ato sexual pode ser traduzido com um ato de “comer”, assim, a relação sexual, na compreensão brasileira coloca a diferença e a radical desigualdade, para logo em seguida hierarquizá-la no englobamento de um comedor e um comido, podendo  afirmar, “(...)sem correr o risco do exagero, que mesmo hoje, nesta era de transformação e mudanças rápidas, o homem é o englobador do mundo da rua, do mercado, do trabalho, da política e das leis, ao passo que a mulher engloba o mundo da casa, da família, das regras e costumes relativos à mesa e à hospitalidade(...)”. (p.61) Pois como afirma Da Matta na p. 58 a comida define  bem as pessoas: “dize-me o que comes e dir-te-ei quem és”! 
Com tudo isto El nos mostra como  estamos acondicionados a viver de rotinas, que é capaz de variar de sociedade para sociedade e pode ser realizada tanto coletiva quanto individualmente. Como rotina nos remete ao trabalho e que este é o que indica a idéia (ou ideal) da construção do homem pelo homem, onde o controle é total. E por conta desta obrigação operante a sociedade é instigada a promover momentos especiais que o próprio grupo, planeja, constrói, inventa e espera no caso, as festas.  

Onde o autor faz uma análise do carnaval, algo que sem dúvida nenhuma é o símbolo que melhor descreve o Brasil. Tratando o carnaval como teatro ou prazer. Levando-nos a conceituar o carnaval basicamente como uma inversão do mundo, uma extravagância de forma positiva e esperada, planificada e, por tudo isso, vista como desejada e necessária em nosso mundo social, pois é nele que trocamos o trabalho que castiga o corpo pelo uso do corpo como instrumento de prazer e beleza.
Assim podemos descrever que tal manifestação cria situações onde varias coisas são possíveis de acontecerem outras podem ser evitadas. Ele é definido como “liberdade”, como possibilidade de viver uma ausência fantasiosa e utópica de miséria, trabalho, obrigações, pecado e deveres, onde as pessoas podem até mudar de posição social, permitindo que estas se olhem e, inesperadamente, se vejam em sua unidade como “pessoas” e em sua diversidade como membros de uma comunidade social e politicamente diferenciada.
Todas s festas recriam e resgatam o tempo, o espaço e as relações sociais, assim, é na festa que tomamos consciência de coisas gratificantes e dolorosas. Aqui ele busca, explicar que nem toda festa é igual o carnaval (liberdade, igualdade), já que festas da ordem, ou seja, das formalidades sociais em que se comemoram as relações sociais tal como elas atuam no mundo diário, as diferenças são mantidas. Como também nas sagradas que priorizam a moral e acabam excluindo ( o que lhe é considerado profano) em vez de incluir já que alegam ser este o seu maior objetivo.
 “Tudo isso é salientado com precisão em todos os ritos da ordem”(p.85), onde a idéia de sacrificar o corpo pela pátria, por Deus ou por um partido político acaba se exprimindo pela noção de dever, de devoção e de ordem. O que afronta com os rituais carnavalescos que usa o corpo como instrumento de prazer e beleza.“Daí, talvez, essas regras rígidas de contenção corporal,verbal e gestual nos ritos da ordem”. (p.84)
            Aqui no sétimo capítulo o autor retrata algumas condutas que são peculiares ao brasileiro como a malandragem, o jeitinho, o despachante. , por sermos um país  onde as leis tem suas distinções de acordo com a posição social de cada indivíduo.Assim os brasileiros usufruem destas astúcias de um modo pacífico e até mesmo legítimo de resolver tais problemas, provocando essa junção inteiramente casuística da lei com a pessoa que a está utilizando. Malandro, portanto, seria um profissional do “jeitinho” e da arte de sobreviver nas situações mais difíceis, quanto ao despachante é aquele que tem dificuldade brasileira de vincular a lei com a realidade social diária.
 Diferentemente de alguns países como: “os Estados Unidos, a França e a Inglaterra, que são exemplos, de que lá as regras ou são obedecidas ou não existem” (p.97), lá  a lei  é um instrumento que faz a sociedade funcionar bem e aqui elas funcionam como requisito de exploração ou submissão dos cidadãos, o bom neste livro é que  autor tem a preocupação de nos conduzir  a observar estas diferenças de sociedades  entre o Brasil e outros países considerado do “primeiro mundo”.
Assim a malandragem, não é simplesmente uma singularidade imprudente de todos nós, brasileiros. Podemos dizer que é um modo intimamente original e brasileiro de viver, e às vezes sobreviver, num sistema em que a casa nem sempre fala com a rua e as leis formais da vida pública nada têm a ver com as boas regras da moralidade costumeira que governam a nossa honra, o respeito, e, a lealdade que devemos aos “irmãos”, e sim, Algo muito sério, contendo suas regras, espaços e paradoxos...
Para finalizar seu livro Da Matta nos remete aos caminhos para se chegar a Deus, tendo como foco a religião que segundo ele “é um modo de ordenar o mundo, facultando nossa compreensão para coisas muito complexas, como a idéia de tempo, a idéia de eterno,  a idéia de perda e desaparecimento,  esses mistérios perenes da experiência humana”. (p.113) . A religião marca e ajuda a definir momentos importantes na vida de todos nós, legitimada  com o aval divino ou sobrenatural uma passagem que se deseja necessária, que é chegar a Deus. O Brasil é um país de uma variedade de experiências religiosas extensas e em todas as formas de religiosidade brasileira, há uma enorme e densa evidência na relação entre este mundo e o outro, de modo que a domesticação do tempo e da morte é elemento fundamental em todas essas variedades ou jeitos de se chegar a Deus.
Para construirmos nossa identidade nacional, o autor deixa bem claro em cada capítulo deste livro, que cabe a cada um (brasileiro), na sua singularidade respeitar e aceitar as diferenças tanto individual como coletiva, por mais que estas divergem do “censo comum”. Pois como diz Da Matta ao se referir mais uma vez sobre religião, mas, que esta sirva pra qualquer repartimento social, seja: a casa, a rua, a igreja, o trabalho, as festas... ”A relação pode ter forma diferenciada, mas a sua lógica estrutural é a mesma”




 



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Um comentário:

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