RESUMO
O referido texto
tem por objetivo apontar as mais variáveis formas de resistência do negro
contra a escravidão na Bahia do século XIX. Inicialmente descrevendo as
condições pelas quais estes povos africanos passaram até chegarem aqui no Brasil e a forma pelo qual
foram tratados durante toda a escravidão em sua estadia como escravo no Brasil
colonial e Império. Descrevendo toda a situação de opressão, humilhação,
esclusão, dominação e castigos pelos quais passaram e sofreram. Mas o foco
principal deste artigo é de mostrar toda a indignação e revolta destes
povos por sofrerem a imposição deste
tipo de vida pelos europeus, mostrando
toda a sua repúdia através de lutas constantes pela almejada liberdade através
de resistências as mais variadas possíveis, desde fugas, abortos, assassinatos,
criação de quilombos (refúgios para os negros fugitivos), rebeliões e revoltas
individuais e coletivas até o suicídio. Como também as Leis que foram criadas
de cunho libertador, que não foram estas a causa da Abolição mas foram os
primeiros passos para a tal sonhada Liberdade que também fora precionada principalmente pelas ações
distintas dos negros escravos e os já homens livres. Mostrando que o homem
negro não era aquele ser passivo, acomodado e até mesmo “selvagem” e “sem alma”
como os brancos os denominaram, e sim, mostrar um povo guerreiro, astuto, com
sentimento, religião e cultura própria que não foge a luta quando o assunto
principal é a sua liberdade a busca pela
indentidade roubada, desde a vinda dos
primeiros navios negreiros que aportaram no Brasil ainda no século XVI.
Palavras Chaves:
Escravidão,Resistência, Quilombos, Liberdade,
NEGROS!
RESISTÊNCIAS NA BAHIA DO SÉCULO XIX
SÔNIA
MARA DOURADO MARTINS
“Quando eu me lembro do
estalar do chicote, meu sangue corre gelado, lembro-me do navio de escravos,
quando brutalizavam a minha alma”. Bob
Marley
A História nos tem mostrado
muitos acontecimentos, pelos quais constituíram o nosso país. Um destes
certamente o mais importante foi à implantação da mão de obra africana
denominada de escravidão, devido às condições precárias de serviço imposta a
esta população. Desde o século XVI foram trazidos homens e mulheres africanos,
tirados de sua terra natal como animais, onde já dominavam a agricultura,
pecuária, sabiam trabalhar os metais, tinham conhecimento com a metalurgia, ou
seja, eram vistos como a prosperidade desta nova nação que surgia em meio à
“selvageria” dos Índios e das matas.
Viajando em condições
subumanas nos navios negreiros, que tanto pavor causou ao poeta Castro Alves,
tratados aqui de maneira brutal e violenta, vivendo em permanente estado de
coação, foram trazidos como mercadoria valiosa, pois cada homem e mulher
saudável comprado custavam caro, sem respeito nenhum por sua singularidade já
que veio pessoas de várias nações africanas cada um com a sua língua, costume,
religião, ou seja, seu modo de organização, de vivência social e política das
múltiplas Áfricas que compõe o continente africano. Era de se esperar que os
negros buscassem de maneira sistemática e continuada a sua liberdade
monopolizada.
Vieram contra a sua vontade,
pra uma terra distante e desconhecida, deixando pra trás toda uma história de
vida. Vida estas, que se dividiam em status, prestígios, posições sociais, (já
que relatos de historiadores comprovam que chegaram aqui príncipes, princesas,
reis, rainhas, guerreiros... de várias nações africanas) para se submeterem a
escravos dos brancos europeus.
Posição esta que era da
lavoura pra senzala, do mato (capturando gado) pra senzala, da cidade (escravo
de ganho) pra fazenda ou do engenho pra senzala, esta era a vida cotidiana, e
sem contar que quando desagradava seus senhores eram castigados com os mais
cruéis castigos possíveis. Como nos informa MATTOSO:
O castigo mais suave
que um senhor pode infligir a um escravo é o de prendê-lo, em geral
acorrentado. Mas, cada fazenda possui suas gargantilhas, golilhas, máscaras de
ferro e seus troncos que prendem pescoço e artelhos e até imobilizam durante
dias e dias o escravo condenado. O tronco e o chicote são os castigos
preferidos dos senhores. (...) Até 1824 as mutilações de escravos desobedientes
eram autorizadas: marcas a ferro em fogo, esmagamento de dedos por algemas de
tarrachas, corte de orelhas, amputação parcial dos pés, não eram raros. Mas o
chicote não perde a condição de instrumentos preferido da repressão e seu uso
somente é abolido em 1886. (...) ( p156, 2003)
A violência legal e
ordenadamente utilizada pelo branco como meio de conter o escravo, gerava o
medo, mas, também a revolta e formas de resistências por parte dos escravos
reprimidos a tais castigos cruéis. Com esta condição imposta de vida, estes
sujeitos nunca foram apáticos a esta situação. O conhecimento que já temos
sobre a história da escravidão nas Américas serve para comprovar que os escravos
não foram pessoas passivas e acomodadas. “(...) Mal foram postos a trabalhar,
os negros começaram a escapar do controle dos senhores, criando comunidades de
fugitivos no interior do país (...).” (MANN e HECHT, p.74, 2012)
Apesar da dificuldade que muitos historiadores
e estudiosos no assunto, encontram pela ausência de documentos que representam
a operacionalização e desenvolvimento da
escravidão no Brasil, dando ênfase que a classe dominante queria mesmo
era apagar da memória de todo brasileiro a violência e a crueldade praticada
com estes povos. Tornando difícil também ver os relatos da luta escrava pela
liberdade na Bahia, atrapalhando a pesquisa para desenvolver um trabalho
minucioso e melhor embasado do tema.
Em vista
disso que ao longo de nossa História tem sido uma prática comandada pelos
estudiosos do processo de libertação dos escravos brasileiros, a eliminação do
papel desempenhado pelo negro no decorrer da luta travada no país pela abolição
da escravatura, nas literaturas que aborda este tema. Envolvidos com a
Historiografia Oficial, distanciados da realidade ditada por mais de três
séculos de escravidão, é que grande parte dos estudiosos e pesquisadores
cometem o equívoco imperdoável de ignorar, e mesmo subestimar, a permanente
luta do africano escravizado pela sua liberdade, daí a dificuldade encontrada
por muitos pesquisadores de ver o negro como agente do processo de libertação.
É verdade que o escravismo
provocou, em teoria e mito, no ilusório senhorial de que os milhões de pessoas
(mulheres, homens jovens e adultos, idosos e crianças) removidos da África, não
deveriam participar ativamente na determinação dos rumos de suas vidas nas
fazendas, engenhos e cidades que funcionavam com a energia de seu trabalho. “O
trabalho escravo era um fator estrutural da economia brasileira, tanto que o
seu controle interno se fazia cada vez mais rígido.” (BOSI, p. 205, 1992)
Contudo a História atual vem nos mostrando o contrário sobre a participação dos
escravos no processo ativo e participativo pelo fim da escravidão. Embora a queda oficial da escravidão só tenha ocorrido
em 13-05-1888, a luta do escravo pela sua libertação antecede e transcende o
Ato da princesa Isabel.
Todavia,
desde o momento em que chegaram, têm mostrado inquietações, indignações com a condição
de vida oferecida a eles. Muitos começaram a fazer camaradagem com senhores,
para conquistar a simpatia e assim no futuro a tão sonhada liberdade com um
documento chamado Carta de Alforria (era
um documento cedido a um escravo por seu proprietário, tipo de “atestado” de
liberdade em que o proprietário abdicava dos seus direitos de posse sobre o
escravo. Este último, após a Alforria, era chamado “negro forro”)
documento de valor legal registrada em cartório,
ou redigido por quem de direito com o intuito de conceber liberdade ao escravo,
ficando assim, o escravo estaria liberto após cumprir as condições
estabelecidas e condicionadas pelo seu senhor no documento que
para eles, ela era um dos meios mais simples para
sair do cativeiro, levando em consideração
que as cartas de alforria representavam um dos aspectos do resistir escravo.
Somente
ao tornar se homem livre, ou ao menos quando começa a divisar a possibilidade
de alforriar-se, é que o escravo cruza a passagem que transforma o prisioneiro
infeliz num ambicioso alerta, movido por uma esperança tenaz. (...) através da
astúcia, arma eficaz dos fracos e dos oprimidos, que possibilita ao escravo
fingir-se obediente, fiel e humilde ante seus senhores, fraternal e digno junto
aos companheiros de servidão. (...)(MATTOSO, p.167, 2003)
Outra manifestação visível
de resistência foi a de conseguir enganar os europeus com suas astúcias em
relação à religião, onde estes tiveram a malícia de relacionar seus santos
cultuados na África com os santos católicos cultuados e respeitados pelos
europeus, sinal de não aceitação da religião imposta, que também deu origem as
irmandades (organizações religiosas), a estas eles devotavam toda a sua
fidelidade a sua terra natal, “raça”, cultura, costumes, mantendo segredo. Como
retribuição os líderes destas irmandades garantiam aos seus seguidores poderes
importantes como:
O de ficar invisível aos olhos dos brancos e
as balas não atingirem seus
corpos. E os cativos, os seus “fiéis seguidores,” acreditavam.
Com seus rituais,
poderes, apetrechos de ferraria, patuás e santos de origens tão diversas, esses
líderes mostravam que estavam em curso poderosos de adaptação das diversas
culturas africanas às condições do Brasil (...) que também produziam lógicas
próprias e poderes no interior das senzalas. (...) (MACHADO e GOMES, p28-29,
2010)
Atitudes estas que causavam
bastante medo aos seus senhores, também quando estes descobriam que “um escravo
era “feiticeiro” ou “médico”, conhecedor das ervas ou magia, com frequência
apressa-se em vendê-lo tal é o seu temor ao envenenamento gradual (...).”
(MATTOSO, p. 157, 2003) Muitos usavam e abusavam deste conhecimento com as
ervas pra se livrarem do cativeiro de diversas formas: envenenamento de
capitães do mato, feitor, senhores brancos com o “mau olhado” (cuja força pode
provocar até a morte deste com tanta eficiência como uma flecha envenenada),
envenenamento de si próprio (suicídio) e para abortos... Pois:
qualquer conjunto de
práticas escravas e negras, de um modo geral - ações, relações pessoais e
estratégias-, que no período vislumbravam a liberdade como uma possibilidade
concreta. Liberdade entendida aqui, não só como a possibilidade de se livrar do
cativeiro, mas também como a construção de estratégias cotidianas que
transformassem a dureza da vida escrava e negra em algo menos insuportável. (MATTOS, p.147, 2008)
Outro motivo de obstinação
ficava por conta do trabalho pesado, vigiado, açoitado quando não feito
direito, é que muitos destes homens e mulheres acabavam fugindo das fazendas
onde eram escravizados, formando povoamentos chamados de Quilombos, unidos em
um espírito de resistência “O escravo “em fuga” não escapa somente de seu
senhor ou da labuta, elide os problemas de sua vida cotidiana, foge de um meio
de vida, da falta de enraizamento no grupo dos escravos e no conjunto da
sociedade. (...)” (MATTOSO, p.153, 2003) como também utilizava da esperteza e
ginga trazida da África junto com as batucadas do atabaque e outros
instrumentos de percussão, a capoeira que era visto como dança por alguns, mas,
que aqui serviu de luta (arma) contra os capitães do mato, senhores que com
golpes gingados e bem elaborados os assassinavam numa tentativa de livrar desta
condição imposta a eles sem mais e nem menos.
Alcançar a liberdade,
resgatar sua identidade furtada, se manter num cotidiano de existência que
desse sentido a uma vivência social, cultural e humana era tudo que almejavam,
já que experimentou em longo prazo um modelo de vida imposta, assinalada por
dominação, discriminação, exclusão e castigo. Sendo estes os objetivos da
população negra no Brasil colonial, para tentar alcançá-lo utilizaram múltiplas
formas de estratégias, incluindo desde as pequenas infrações individualizadas
até as mais graves e coletivas, desde a sua chegada aqui, mas, é no século XIX
que estas manifestações de resistência vão ficando mais frequentes visíveis e
fortes em todo o país e particularmente na Bahia.
A história da resistência ao
cativeiro na Bahia é tão antiga quanto à implantação da mão de obra escrava no Brasil.
Pensar na escravidão em Salvador no século XIX é o mesmo que pensar em
conflitos sociais e raciais envolvendo instituições e sujeitos, este último na
busca pela liberdade. Infelizmente uma das práticas mais comum entre os negros
de obstinação era o suicídio uma expressão violenta de não aceitação e a não
adaptação do que lhe foi imposto. O suicídio era cometido por não haver mais
saída, era um momento de desespero, com mais frequência entre os escravos da
cidade embora estes gozasse de uma vida mais autônoma em vez dos que estavam
situados nas fazendas. As razões para tais atitudes como nos informa MATTOSO
eram:
(...) impossibilidade de queixar-se à justiça
de maltratos recebidos, incapacidade de pagar ao senhor a soma estipulada no
contrato do escravo “de ganho”, acusações falsas, medo de ser vendido para
longe, insucesso numa tentativa de fuga, roubo descoberto, etc. É o medo,
sempre, que leva ao suicídio, um medo vingador para o qual todos os métodos são
válidos: asfixia engolindo a língua, enforcamento, estrangulamento,
geofagia.(...) Pois o escravo decidido a morrer perde apetite, emagrece e
morre: é o famoso “banzo”, suicídio lento, doença da saudade.(...)( p. 155,
2003)
Somente na metade do século XIX que começa a
crescer a ideia da abolição fortalecida pelas leis criadas a favor dos escravos
como Lei Eusébio de Queiroz (foi
idealizada desde 1831 e aprovada em 1850), Lei do Ventre Livre (1871), Lei do
Sexagenário (1885). Sendo estas não cumpridas na íntegra o que leva escravo
e escravos a se rebelarem com mais coragem, confiança e esperança.
“Até meados do século XIX, o
discurso, ou o silêncio de todos, foi cúmplice do tráfico e da escravidão”.
(BOSI, p.217, 1992). A Lei Eusébio de
Queiroz aprovada em 1850 veio para acabar com esta omissão, tinha como
objetivo acabar com o tráfico negreiro, diminuindo a compra e escravização de
povos oriundos da África. Como o próprio Eusébio de Queiroz ministro da Justiça
e ex- chefe de polícia do Rio de Janeiro testemunhou sobre a lei que leva o seu
nome que finalmente deu fim ao tráfico depois de tantos enfrentamentos com o
governo britânico:
Sejamos francos: o
tráfico, no Brasil, prendia-se a interesses, ou para melhor dizer, a presumidos
interesses dos nossos agricultores; e num país em que a agricultura tem tamanha
força, era natural que a opinião pública se manifestasse a favor do tráfico: a
opinião pública que tamanha influência tem, não só nos governos
representativos, como até nas próprias monarquias absolutas (...). (NABUCO,
pp117-8, 1977 apud BOSI, p.216-7,1992)
O tráfico pode até ter sido
eliminado, mas a desculpa de ser praticado estaria presente ainda nas vozes dos
fazendeiros e dos ex-traficantes de escravos, cujos sujeitos tinham sido
obrigados a proibi-lo de vez.
Com a implantação de Lei do Ventre livre, conhecida também por “Lei Rio Branco” que foi promulgada em 28
de setembro de 1871, muitas africanas começaram a ter mais liberdade e
coragem em por seus filhos no mundo, antes elas quando grávidas muitas buscavam
o preparo de ervas com propriedades abortivas, muitos abortos foram provocados
durante a escravidão, esta era mais uma forma de resistência radial. Mas, com a
implantação da Lei seus filhos poderiam nascer livres sem precisar viver aquela
vida que lhe foi obrigada a viver, como estar escrito na: LEI Nº 2040 de 28.09.1871 – LEI DO VENTRE LIVRE:
A Princesa Imperial
Regente, em nome de S. M. o Imperador e Sr. D. Pedro II, faz saber a todos os
cidadãos do Império que a Assembleia Geral decretou e ela sancionou a lei
seguinte:
Art. 1.º – Os filhos
de mulher escrava que nascerem no Império desde a data desta lei serão
considerados de condição livre.
§ 1.º – Os ditos
filhos menores ficarão em poder o sob a autoridade dos senhores de suas mães,
os quais terão a obrigação de criá-los e tratá-los até a idade de oito anos
completos. Chegando o filho da escrava a esta idade, o senhor da mãe terá
opção, ou de receber do Estado a indenização de 600$000, ou de utilizar-se dos
serviços do menor até a idade de 21 anos completos. No primeiro caso, o Governo
receberá o menor e lhe dará destino, em conformidade da presente lei.
Já a Lei do Sexagenário ou Lei Saraiva Cotegipe, promulgada em 28 de setembro de 1885,
concedia liberdade apenas aos escravos com mais de 65
anos, que já não dispunham de força e disposição para encarar as péssimas
condições de trabalho cedidas pelos senhores de engenho, se caso conseguissem
chegar a esta idade já que a estimativa de vida de um escravo era de 40 a 45
anos. A Lei dos Sexagenários como
todas as outras pode não ter sido decisiva para o fim da escravatura, mas fez
parte de uma cadeia de avanços abolicionistas que culminariam na assinatura da Lei Áurea, em 1888.
Ao estudar e pesquisar
livros e artigos sobre a temática ficou claro que uma das manifestações de
resistência mais conhecida em todo o Brasil era mesmo os Quilombos, mas,
inúmeras outras modalidades de revoltas de escravos eclodiram em diversos
pontos de nosso território, neste período de formidável resistência dos
oprimidos se inscreve a Revolta dos Malês, (
- O termo “malê” é de origem africana (ioruba) e significa “o muçulmano”. Foi um movimento que ocorreu na
cidade de Salvador
na Bahia entre os dias 25 e 27 de janeiro de 1835. Os principais
personagens desta revolta foram os negros islâmicos que exerciam atividades
livres, conhecidos como negros de ganho (alfaiates, pequenos comerciantes,
artesãos e carpinteiros). Apesar de livres, sofriam muita discriminação por
serem islâmicos. Os revoltosos, cerca de 1500, estavam muito insatisfeitos
com a escravidão africana, a imposição do catolicismo e com o preconceito
contra os negros. Portanto, tinham como objetivo principal à libertação dos
escravos e também acabar com o catolicismo forçado.
.
Os revoltosos saíram do bairro de Vitória (Salvador) e se reuniram com outros. Invadiram os engenhos de açúcar e libertaram os escravos.
Depois de denunciados os soldados cercaram os revoltosos na região da Água dos Meninos, que da janela do Forte os alvejavam a bala. No conflito morreram sete soldados e setenta revoltosos. Os líderes (os pretos nagôs Diogo, Ramil, James, Cornélio e Tomás) foram condenados a pena de morte. Os outros revoltosos foram condenados a trabalhos forçados, açoites e degredo (enviados para a África). Talvez tenha sido esta a maior manifestação de resistência coletiva (demonstração de união e força) dos escravos, que provocaram sérias preocupações aos seus senhores.
Os revoltosos saíram do bairro de Vitória (Salvador) e se reuniram com outros. Invadiram os engenhos de açúcar e libertaram os escravos.
Depois de denunciados os soldados cercaram os revoltosos na região da Água dos Meninos, que da janela do Forte os alvejavam a bala. No conflito morreram sete soldados e setenta revoltosos. Os líderes (os pretos nagôs Diogo, Ramil, James, Cornélio e Tomás) foram condenados a pena de morte. Os outros revoltosos foram condenados a trabalhos forçados, açoites e degredo (enviados para a África). Talvez tenha sido esta a maior manifestação de resistência coletiva (demonstração de união e força) dos escravos, que provocaram sérias preocupações aos seus senhores.
Dentro dessa perspectiva é
que os "quilombos ou mocambos" representam considerável acervo no
painel das lutas travadas pelos escravos na busca incessante de sua libertação.
Foi constatado a existência de quilombos ou mocambos em quase todo o território
baiano como em (Xique-Xique, Rio das Contas, Santo Amaro, Nazaré, Jacuípe,
Maragogipe, Cruz das Almas, Andaraí, Jaguaribe e outros), os principais
quilombos existentes em Salvador, Quilombo do Buraco do Tatu (1744-1765),
Quilombos de "Nossa Senhora dos Mares" e "Cabula", Quilombo
do Urubu (1826)
Os quilombos que na língua banto significam povoações, eram redutos afastados dos centros urbanos, que reuniam principalmente ex-escravos negros que fugiam de seus senhores em busca de liberdade. Eventualmente, alguns índios e brancos pobres também habitavam os quilombos. Geralmente, localizavam-se em locais de difícil acesso, como no meio de matas ou em montanhas. Seus habitantes, chamados “quilombolas”, formavam comunidades que buscavam manter suas tradições religiosas e culturais; alguns chegavam a reproduzir a organização social africana. Sobreviviam por meio da pesca, da caça, da coleta de frutas e da agricultura; também praticavam o comércio dos excedentes com as populações ao redor, pois os quilombos se comunicavam entre si.
Os quilombos que na língua banto significam povoações, eram redutos afastados dos centros urbanos, que reuniam principalmente ex-escravos negros que fugiam de seus senhores em busca de liberdade. Eventualmente, alguns índios e brancos pobres também habitavam os quilombos. Geralmente, localizavam-se em locais de difícil acesso, como no meio de matas ou em montanhas. Seus habitantes, chamados “quilombolas”, formavam comunidades que buscavam manter suas tradições religiosas e culturais; alguns chegavam a reproduzir a organização social africana. Sobreviviam por meio da pesca, da caça, da coleta de frutas e da agricultura; também praticavam o comércio dos excedentes com as populações ao redor, pois os quilombos se comunicavam entre si.
Dando ênfase ao Quilombo do
Urubu por se tratar do período pesquisado, Conta-nos
José Alípio Goulart apud Manuel Antônio Santos Neto:
Em
1826 “formou-se um grande quilombo chamado URUBU, no sítio Cajazeira, nas
proximidades da Capital”. Os documentos da época dizem que os quilombolas do
URUBU premeditavam apresentar uma revolução na Cidade. No dia 15 de dezembro de
1826, praticaram alguns ataques no Cabula contra lavradores, raptando uma
menina que com sua família passava numa roça no dito sítio, e que dois dias
depois foi encontrada muito maltratada e recolhida ao Hospital da Misericórdia.
(...) soldados e um cabo, sabendo estarem "os negros” reunidos em um lugar
denominado URUBU, em número de mais ou menos 50, cercaram o local e uma luta
travou-se ao meio-dia, tendo falecido os capitães Antonio Neves e José Correia,
segundo informa Clóvis Moura. (...) Os sentinelas dos quilombolas pressentiram
a presença das tropas, imediatamente se puseram em guarda e deu o alarme, a
batalha se desenvolveu entre uns 30 soldados e uns 50 calhambolas, estes usando
como armas facões, facas, lazarinas, lanças, e mais outros instrumentos curtos.
Portanto, uma luta de vida e de morte aos gritos de MATA! MATA! Lançando-se
furiosos sobre os soldados (...). Destacaram-se sobremaneira nesse embate uma
escrava chamada Zeferina, lide arco e flecha nas mãos, lutando ferozmente, até
ser presa. (...) Em documento dirigido ao Chefe da Polícia, um dos comandantes
das tropas encarregadas da destruição do Quilombo do URUBU, José Balthazar da
Silveira, relata: "prendi a negra Zeferina, a qual se achava com arco e
flecha na mão”, e achei três negros mortos e uma negra, e alguns sacos de
farinha e bolacha, e como já fosse noite (...) deixei perto do lugar o Sgto. e
soldados de Pirajá, para observar qualquer movimento que houvesse. Este
documento é datado de 17 de dezembro de 1826. (GOULART, José Alípio. Os
Quilombos, Revista Brasileira de Cultura, vol. 6, 1970, pp. 129/141)
É notória a importância dos quilombos como
forma de resistência negra desde seu surgimento. Os quilombos foram um dos
vários elementos que mostram uma das maiores lutas dos negros para a conquista
da liberdade, talvez tenha sido o mais importante movimento de luta para a
busca da liberdade. O exemplo admirável da negra Zeferina que de
arma em punho cedeu caro a derrota, as múltiplas formas encontradas pelos
insurretos para combater a violência e a escravatura.
Depois de várias
leituras foi possível verificar e analisar de forma bem sucinta, um pouco da
vida e da luta deste povo guerreiro que não se deixa abater diante da opressão,
humilhação, tentativa de aculturação, repreensões e variadas formas de
castigos. Mostrando que desde que chegaram aqui, conseguiram mostrar e impor
sua repudia ao sistema que lhe foram impostos a viverem de variadas formas,
usufruindo o que já conheciam e adquirindo novos conhecimentos para lutarem
pela liberdade e assim os fez.
Se é correto afirmar que as Leis Eusébio de Queiros, Lei do
Ventre Livre e a Lei do Sexagenário, conquistadas através do desejo insano de abolicionistas e a pressão
estrangeira (Inglaterra principalmente) como também a Revolta dos Malês, as formações
de Quilombos, que foram as principais resistências coletivas ou se as fugas, os suicídios, os abortos, a compra
de alforrias de cunho mais individual, levou o governo a legalizar a condição
de Libertos, mas, teve importante
contribuição, disso não tenhamos dúvida.
A pressão da Inglaterra por um lado que necessitava de consumidores para
seus produtos recém-industrializados (já que o Brasil era o único país
americano que ainda mantinha a escravidão) e a participação do negro nestes
movimentos serviu como força para
o aceleramento da tão sonhada liberdade que só foi promulgada e legalizada no dia 13 de maio de 1888,
através da Lei Áurea,( "Áurea" quer dizer "de ouro" e a expressão refere-se
ao caráter glorioso da lei que pôs fim a essa forma desumana de exploração do
trabalho) A sanção ou aprovação da lei foi, principalmente, o resultado da campanha abolicionista que se desenvolvia no Brasil desde a década
de 1870, mas não se pode
negar o empenho pessoal da princesa Isabel, então regente do Império do Brasil,
para sua aprovação. Primeira senadora brasileira e primeira mulher a assumir
uma chefia de Estado no continente americano.
Através desta, a liberdade total finalmente foi alcançada pelos
negros no Brasil. Esta lei, assinada pela Princesa Isabel, abolia de vez a
escravidão no Brasil. O maior legado que os africanos que chegaram ha quase
quinhentos anos, nos deixaram foi à perseverança e a luta em alcançar os seus
objetivos, e que isto sirva sempre como lição e fonte de inspiração para todos
os povos brasileiros, nunca deixarem de sonhar.
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Acesso
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P. T. e GOMES, Flávio. Para curar os males. Revista de História biblioteca
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Charles C. e HECHT, Susana. Quilombos: Os
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12. Nº115. Pp. 70- 87. .Abril de 2012
MATTOS,
Wilson Roberto de. Negros contra a ordem:
Astúcias, resistências e liberdades possíveis (Salvador 1850-1888). 206 p.-
Salvador-Ba: EDUNEB, EDUFBA, 2008.
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O
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WWW.significados.com.br/quilombo/ . Acesso em:
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02/01/2013
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SILVA,
Tiago Ferreira da. Lei do Sexagenário. Disponível em:
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em: 02/01/2013
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