sexta-feira, 4 de maio de 2012

Bahia berço da cultura e religião colonial

                                       
UNEB- UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
PROGRAD – ASPES/FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO
BÁSICA – UNEB/MEC/CAPES/ PLATAFORMA FREIRE
CURSO DE LICENCIATURA DE HISTÓRIA
DISCIPLINA-HISTÓRIA DA BAHIA


                                                                                                                         


SÔNIA MARA DOURADO MARTINS




ARTIGO:
BAHIA BERÇO DA CULTURA E RELIGIÃO COLONIAL





Irecê – Bahia
2012
SÔNIA MARA DOURADO MARTINS






ARTIGO:
BAHIA BERÇO DA CULTURA E RELIGIÃO COLONIAL



Artigo apresentado como instrumento de avaliação da disciplina História da Bahia, ministrada pelo docente Emanuel Luis Souza, componente curricular do curso de Licenciatura em História, 11º módulo do 2º ano, oferecido pelo programa Uneb/Mec/Capes/Plataforma Freire.









Irecê – Bahia
2012
RESUMO

O presente artigo tem por objetivo analisar alguns aspectos ligados à religiosidade da Bahia no período colonial no finalzinho do século XV ao XIX (nos anos de 1500-1822), descrevendo  principalmente  suas características e origem. Partindo da análise de vários livros, artigos e  textos lidos sobre o referente tema, busco  entender as práticas de crenças religiosas dentro do contexto colonial, especificamente na Bahia, na tentativa de esclarecer algumas questões a respeito. Mostrando como ficou a situação da religião indígena (a xamanista,religião politeísta), no território com a chegada dos Cristãos, Inclusive, mostrar como aconteceu a busca pela manutenção da origem religiosa africana que também era politeísta (denominada de sincretismo religioso), sem esquecer o modo como se reelaborava o catolicismo nos novos contextos coloniais. A prática religiosa no Brasil, enquanto colônia portuguesa apresentava várias inclinações conforme a origem cultural e ética dos três grupos étnicos (índio, branco e negro) aqui instalados. Mediante os problemas e polêmicas em tratar deste tema, principalmente no período colonial, aonde a religião Cristã era mais rígida (radical), e também pela dificuldade de se encontrar livros e textos que contam especificamente sobre a religião na Bahia colonial e através da minha curiosidade pela temática, resolvi escrever este artigo sobre a religião, ou seja, religiões na Bahia colonial.


Palavras Chaves: Religião Cristã,Religião Indígena, Bahia colonial,Sincretismo religioso.




            BAHIA BERÇO DA CULTURA E RELIGIÃO COLONIAL
Sônia Mara Dourado Martins
"Se as doutrinas de Jesus sempre tivessem sido pregadas como a pureza de quando saíram de seus lábios, todo o mundo civilizado seria atualmente cristão." (Thomas Jefferson)
Os grupos étnicos que formaram a nossa sociedade brasileira deixaram um legado religioso riquíssimo e forte culturalmente. Os colonos, portugueses trouxeram consigo o Cristianismo e também algumas práticas evangélica e judaica. Os africanos, oriundos de diversas regiões da África, chegaram com os seus sistemas religiosos animistas e alguns que professavam o Islamismo. E quanto os indígenas, eles viviam segundo uma crença religiosa xamanista. Com a miscigenação e a missionação das populações e das crenças por elas seguidas foram dando origem a novas práticas religiosas que até os dias de hoje são praticadas.
    Ao estudar e pesquisar sobre a temática pude perceber que desde a chegada dos portugueses em 1500, a religião não era só uma, e sim, várias ramificações religiosas além da cristã, ao contrário do que abordam os livros didáticos adotados na maioria das nossas escolas, e estas foram cultuadas até o fim do período colonial 1882, lado a lado com o cristianismo da Igreja Católica, mas, não com o mesmo poder e a mesma força. Contudo, estas outras religiões passaram boa parte do tempo sem serem citadas na história do Brasil colonial e só durante o século XIX e XX é que autores começam a abordar com veemência este tema, em suas obras historiográficas, pois as mesmas ganham força neste período.
Para falar da religião na Idade Moderna, mais preciso, no período colonial, tenho que voltar um pouco (finalzinho) da Idade Média. Jean Delumeau em A Civilização do Renascimento, precisamente no capítulo O Renascimento como Reforma da Igreja, coloca a existência de um fator principal que caracteriza a vida religiosa nesse momento. “Segundo ele a ambição de poder temporal e o comércio da fé não deixaram de ser motivo de clamores por reformas, clamores esses, aliás, que já vinha desde a idade Média”. Entretanto, no séc. XVI, num ambiente arejado pelo humanismo, o controle da Igreja Católica sobre a fé não se fazia mais exclusivo como no período anterior, ainda que, provavelmente, esse controle nunca tenha sido exclusivamente marcante, o que se evidencia pela sobrevivência, ao longo de toda a baixa Idade média, de rituais pagãos, por vezes incorporados às manifestações Cristãs.
O fato é que agora, as pessoas poderiam escolher entre as pregações emotivas dos luteranos e demais grupos reformistas protestantes, e as missas católicas em latim, que em geral, não correspondiam aos anseios da maioria da população. Nesta explicação Delumeau deixa claro porque o anseio dos europeus de chegarem aqui, sendo a religião um dos principais motivos do seu  advento.
“Tendo como objetivo conseguir mais fiéis para sua Igreja Romana, pois a mesma teria percebido a necessidade de renovação no tratamento com os fiéis tardiamente, aí se vêem na obrigação de converter novos fiéis em terras mais distantes, fiéis estes desconhecedores da escrita e leitura e da cultura e crença colonial”. (DELUMEAU)
Este processo só fez ajudá-la a mover também a sua própria reforma, esclarecendo os ensinamentos e a doutrina Cristã por meio do catecismo, como foi feito aqui na Bahia na época colonial do Brasil com os índios, que foram bem mais fácil de serem manipulados, além de se preocupar com o preparo dos padres, que passaram a serem formados em escolas especiais, os seminários.
O português foi sem dúvida, o europeu que mais contribuiu para a formação cultural, educacional e religiosa do povo baiano. Com a convivência com os índios puderam aprender muitas coisas, principalmente o português Diogo Álvares ao qual recebeu a alcunha de Caramuru que conviveu bastante tempo com os índios ao ponto de se unir e ter filhos com uma índia tupinambá, Catarina Paraguaçu, aprendendo sua língua e costumes, e mais tarde veio o padre jesuíta José de Anchieta, deste modo teve mais facilidade de convencer os índios a ajudarem na construção da cidade de Salvador, no qual os mesmos conseguiram material para a construção, carregou-no até o local escolhido para se edificar a cidade.
Cidade esta que herdou a arquitetura da moda em Portugal da época, dando ares europeus à cidade de Salvador. Também a música, a religião Cristã, a estrutura familiar com base no casamento baseado nas leis cristãs, a prática da monocultura e outras características mais, estabelecendo os seus costumes, hábitos, enfim a sua cultura, as quais herdaram.
“Os baianos, como todos os brasileiros, herdaram a forma de sociedade patriarcal. Os lusitanos criaram uma Bahia agrária, mercantil e escravocrata voltada para as necessidades do capitalismo comercial que dominava o mundo dito civilizado”. (TAVARES, Luís Henrique Dias. - História da Bahia. - São Paulo: Ática, 1987).
Tendo a Bahia construída e organizada a base lusitana, ficou mais fácil a manipulação religiosa, lembrando que esta não foi a única a se estabelecer e criar raízes na Bahia colonial. Já que a Bahia encontrada pelos portugueses não era Cristã, nem protestante, espírita ou animista. Era sim marcados pela crença em um mixto de lendas criadas pelos nativos, donos das terras, baseadas nas entidades naturais que explicavam à vida, a morte, a doença, a cura, as desgraças, as alegrias... Não havia deuses e deusas nas crenças dos povos indígenas e, às vezes, fatores importantes como o surgimento do sol, da terra, das estrelas ou da água não tinham resposta, mas, dentro do contexto indígena era uma religião bastante organizada.
Ao longo da história a cidade de Salvador permaneceu sempre ativa nas ações da Igreja, grande e destacada na formação espiritual e moral do povo baiano, e, principalmente na educação. Representado na figura do padre, que vieram para cá com um propósito de “reinventar o humano” como bem disse Darcy Ribeiro, esta era a utopia jesuítica.
Ao longo destes quinhentos e doze anos de história da Bahia, o território hoje deste Estado, foi lentamente povoado pela contribuição dos grandes grupos étnicos do índio, do europeu e do africano. Sendo o índio o mais antigo, pertencente a diversos grupos, como: tupis, jês, cariris... Etnias estas que não formaram grupos isolados, muito pelo contrário dentro das circunstâncias da posse das terras do Brasil pelos europeus ambos viveram lado a lado um dependendo dos outros.
“No convívio do trabalho de produção da grande lavoura  da cana-de-açúcar, do algodão, do fumo; nos currais de gado; nas minas de ouro e diamante; muitas foram as situações de acasalamentos, e desses surgiram os tipos mestiços da variedade colorida do povo baiano (...). Homens e mulheres que realizaram o espelhado povoamento das várias regiões do território baiano”.(TAVARES,1981, P.- 25)
Cada um destes grupos, índios, europeus e africanos, deixaram marcadas contribuições na vida baiana, no campo da cultura; economia; política; social e religiosa. Os europeus ao chegarem aqui trouxeram o cristianismo com o objetivo de conquistar mais fiéis já que a Igreja Católica estava perdendo muitos, devido à reforma protestante e contra reforma religiosa. Cristianismo este que pretendia universalizar a sua linguagem, as suas normas, os seus gestos tratavam de juntar, à conquista territorial, a conquista espiritual da Terra do Brasil, tendo o objetivo maior que era o de cristianizar os brasis.
Na Bahia encontra-se uma religiosidade com aspectos caracterizados por uma variedade de religiões, seitas, igrejas, terreiros, crenças separadas ou totalmente misturadas, uma vida cristã baseada no sagrado e no profano, esta mistura vem dos primórdios colonial.
 Quando os europeus desembarcaram nas praias e enseadas da Bahia, encontraram um povo totalmente diferente do que estavam acostumados, povos estes com uma religião de mitos animistas que temiam os fenômenos da natureza, como: raios, trovões, relâmpagos. Que resumidamente a vida religiosa dos nativos era baseada na crença em seres míticos que perturbavam a caça e os atormentavam fisicamente. No qual os portugueses ao defrontar com tanta inocência e ingenuidade tirou proveito da situação.
Segundo o Padre Manoel da Nóbrega informa em uma de suas cartas, que passo a fazer uso para explicar esta apropriação dos portugueses, pois em suas crenças os índios tinham uma divindade Tupã (tupan, tupã, tupana ou tupuque), que para o padre Manoel da Nóbrega,
 “não significava entidade espiritual superior, e sim a palavra Tupã designava trovões e relâmpagos, mas, para os padres Jesuítas a consideração apropriada para transmitir aos Tupinambás à noção do Deus cristão, apresentando a eles com o poder de castigar e perdoar.” (TAVARES apud Padre NÓBREGA, Manoel da, 2008).
O índio não tinha sacerdotes nem guardiões da fé, certa generalização tende a confundir a figura do pajé como o feiticeiro, mas depois de alguns estudos  podemos perceber que o pajé era um individuo de diversas funções, adivinho, pacificador da natureza, mestre de cerimônias fúnebres...ele não era preparado para ser pajé, mas, revelava-se pajé.
    Além das manifestações espirituais dos índios e dos europeus, também teve as manifestações com as chegadas dos africanos, que trouxeram consigo todo um sincretismo religioso desde 1545. Ao chegarem aqui, mesmo que forçados, trouxeram junto consigo um pedaço da África representada nas diversas ramificações religiosas oriundas de várias regiões de sua nação. Que ao entrar em contato com as já existentes aqui puderam dar origem a outras religiões.
    Mas quero lembrar que o foco deste artigo não é destrinchar todas as religiões e sim as principais deste período, como: Cristã (os brancos) Igreja Católica e monoteísta, Xamanitas (os índios) Religião politeísta cultuavam e respeitavam qualquer manifestação da natureza e o Candomblé é politeísta e animista, que relacionavam seus deuses com a natureza e que para cada um existe uma manifestação distinta.
    Nasceu da mistura das religiosidades africanas e das indígenas. O Candomblé é uma cerimônia religiosa animista que obedece a diferentes rituais: ewê (jeje), ijexá, aussá, ketu, no qual cada um representava um elemento natural. Que tem como objetivo principal permitir a presença dos Orixás os deuses nagôs entre os humanos, que são revivencias de mitos que fala da criação do mundo, do homem, e de suas relações entre si e com o mundo. Tendo dois grupos étnicos distintos da África, um formado por pelos Bantos (que vinham do Congo, Angola e Moçambique) e o outro os sudaneses que vinham da Nigéria e do Benim (que são os iorubas ou nagôs e os jejes).
Religião esta com alguns rituais manifestados com danças, cânticos onde cada orixá tinha o seu, no qual os fiéis as filhas de santos em especial conhecidas como “cavalos de santos” por receberem entidade dos orixás no qual conhecemos como “baixar o santo”, praticados por escravos; negros forros e negros fugitivos. O culto africano ao Candomblé aqui na Bahia colonial foi perseguido pelas autoridades locais e proibida de ser praticado, devido aos seus rituais que eram consideradas de bruxaria. Então os negros passaram a cultuar suas divindades e seguir seus costumes,  perpetuando  assim, os portugueses pensarem ou acreditarem  que os tinham convertido para o cristianismo.Sendo assim os negros davam aos seus Orixás nomes   e imagens de origem católica, por isso ela se manteve e propagou por todo o Brasil e o mundo .
Mas, lembrando que na Bahia colonial, estas religiões não surgiram juntas e que uma a uma foram aparecendo, mas sempre sofrendo intervenção da majoritária por terem acesso ao conhecimento intelectual maior que os demais que são os cristãos.
O Candomblé era baseado nos terreiros do fundo da casa, e que se mantinha assim meio que na clandestinidade, até século XIX, onde os negros com esta artimanha das identificações dos seus Orixás (deuses) com os santos da Igreja Católica conseguiram driblar o clero. Onde podemos perceber desde o início uma dominação ou tentativa de tal, por parte da Religião Cristã, que perseguiram e até mataram (inquisição) pessoas por não permitirem a liberdade de cultos, acreditando que só os deles é que estava mais próximo da Bíblia por isso a mais correta. E assim permaneceram por mais de séculos estes desentendimentos.
Assim permaneceram por mais de séculos estes desentendimentos, e até guerras, torturas e mortes, por serem considerados de coisa do diabo (os famosos hereges), por não estarem de acordo com o clero e a coroa portuguesa. Concluindo este artigo, o qual acredito que possa vim a contribuir para a aprendizagem sobre os primórdios da Idade moderna e contemporânea, identificando suas características e diversidade, na Bahia Colonial.
Por Sônia Mara Dourado Martins, aluna do 11º módulo do 2º ano do curso de Licenciatura em História pelo programa ASPES/Formação de professores da educação básica – UNEB/MEC/CAPES/PLATAFORMA FREIRE

                                      
REFERÊNCIAS:
CHIANCA, Rosaly Braga e SILVA, Lilian dos Santos. - História: Bahia. – 2 ed.-  São Paulo: Ática, 2012.
HANSEN, João Adolfo. – Manoel da Nóbrega. – Recife:Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010. 
 RISÉRIO, Antonio. Uma História da cidade da Bahia. -2. ed.-  Rio de Janeiro: Versal ,2004.
 SOUZA, Laura de Mello e. O diabo e a terra de Santa de Cruz: feitiçaria e religiosidade, popular no Brasil Colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                       
Histoiauniversal.forumeiros.com/t68-colonização-brasil.  Em 03/04/2012
Sbph.cliomatica.com?2006/historia-religiões-e-praticas-religiosas-Marcos- Almeida. Em 03/04/2012
www.outroladodanoticia.com.br/inicial/30411-Bahia-baixa-pode-ter-artefato- judeu. Em 03/04/2012

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